cresci onde tinha ar de sobra. eu respirava sem obstáculos, às vezes asa de inseto, fagulha de pão deixada no muro pra passarinho, poeira de folha, coisas dessa natureza. agora, respiro tentando desviar dos grãos milimétricos que guardam em si coisas da não-natureza, a narina se atrapalha toda, às vezes sacode e espirro. a água forma casa pra jogar de volta os grãos ao mundo. úmidos grãos de não-natureza que se perdem no ar ou findam-se no líquido transparente. não tanto, a ponto dos olhos não conseguirem ver, não como vento, sim como as águas, isso que olho vê. líquido cor de água, o oposto do que hidrata, deixa as mãos descamando, coisa de camaleão, e reduz os grãozinhos ao nada. pensa só: coisa invisível enrolada na água e que deixa de ser objeto de pensamento quando líquido que descama se aproxima, deixa o grão todo nu, desabitável.
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do que rompe ao que reconstruo
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já não conto mais quanto tempo passou mas passou. o peito ressoa e o corpo se distancia do estático. toda reconstrução celular provoca movimentos, seja na grama, na terra no asfalto, cimento. seja na pele, no estômago, coração, fora ou dentro. a parede com infiltração do banheiro está agora lisa, sem sinais de umidade — lembro que, depois do trabalho do homem, limpei e aspirei os cantos do chão, tirei toda a poeira que não era tanta. homem e sua reconstrução regada de cuidado. a gente vai recomeçando, fazendo e limpando poeira, depois que os fins chegam. na paz e tormento, mas agora paz. sobre a beleza do que existiu e do que veio depois, obrigada. nas vírgulas da vida, rompemos com os que gritaram aos nossos quatro ventos (somando dão oito). que venham os novos ventos e que a gente possa estar de cara molhada pra sentir o frescor que saltita de tal interação.