cresci onde tinha ar de sobra. eu respirava sem obstáculos, às vezes asa de inseto, fagulha de pão deixada no muro pra passarinho, poeira de folha, coisas dessa natureza. agora, respiro tentando desviar dos grãos milimétricos que guardam em si coisas da não-natureza, a narina se atrapalha toda, às vezes sacode e espirro. a água forma casa pra jogar de volta os grãos ao mundo. úmidos grãos de não-natureza que se perdem no ar ou findam-se no líquido transparente. não tanto, a ponto dos olhos não conseguirem ver, não como vento, sim como as águas, isso que olho vê. líquido cor de água, o oposto do que hidrata, deixa as mãos descamando, coisa de camaleão, e reduz os grãozinhos ao nada. pensa só: coisa invisível enrolada na água e que deixa de ser objeto de pensamento quando líquido que descama se aproxima, deixa o grão todo nu, desabitável.
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